Uma agência de notícias chinesa infiltrou um de seus jornalistas em uma
fábrica da Foxconn com a missão de conhecer o processo de fabricação do
iPhone 5,
lançado no último dia 12. Ele fingiu ser um operário novato por 10 dias
e conseguiu reunir imagens e informações valiosas sobre como funciona a
fábrica, a rotina de trabalho e o processo de produção do smartphone.
A Foxconn é conhecida por fazer a montagem de eletrônicos como o
iPhone, o iPad e o Xbox 360. Além disso, também fez fama por oferecer
péssimas condições de trabalho aos operários, que obedecem à meta de
fabricação de 57 milhões de unidades de iPhones por ano e os rígidos
prazos impostos pela Apple - o que, para o jornalista, foi o aspecto mais impactante de sua experiência.
Dormitórios da Foxconn são fedidos, sujos e bagunçados
No primeiro dia o repórter participou de um curto processo de seleção,
após responder a um questionário sobre suas faculdades mentais. Em
seguida foi levado à fábrica para iniciar o período de treinamento. E
sua primeira impressão não poderia ter sido pior: os dormitórios eram
sujos, fediam e não ofereciam condições mínimas de conforto aos
trabalhadores.
No segundo dia, todos os novos operários precisaram assinar os
contratos logo após de tomar café da manhã em um refeitório lotado. Os
documentos continham cláusulas específicas sobre a confidencialidade das
informações adquiridas na fábrica, porém deixava de abordar questões
importantes como horas extras, acidentes de trabalho ou salubridade do
ambiente.
Refeitório da Foxconn lotado de trabalhadores
Nos dias seguintes, o jornalista infiltrado participou de treinamentos e
ficou impressionado com a naturalidade com que os superiores tratavam
mal seus empregados. Segundo o diário, era comum os supervisores dizerem
que, embora os funcionários não gostassem do que ouviam, o tratamento
era assim pelo bem de todos. Para aliviar o estresse, os operários se
reuniam em uma área livre da fábrica para “gritarem tudo o que não
podiam gritar no centro de produção”.
No oitavo dia, os novatos finalmente foram levados à linha de produção do iPhone 5.
Ao entrar na área, considerada de segurança máxima, todos foram
revistados e passaram por detectores de metais. No local não eram
permitidos quaisquer materiais metálicos, sejam eles fivelas de cintos,
brincos, e muitos menos aparelhos eletrônicos como câmeras e celulares. O
diário do jornalista, inclusive, descreve que, certa vez, um operário
foi demitido pois levara consigo um cabo USB para dentro da linha de
produção.
Operários são revistados antes de entrar na área de produção
Com a costumeira truculência, os supervisores alertavam a todos que, ao
sentar em seus lugares, não poderiam fazer nada além de obedecer
ordens. A linha de produção para onde o jornalista foi levado era
responsável por colocar películas protetoras na entrada do fone de
ouvido e do conector do iPhone 5. Assim, no processo de pintura a tinta
não entraria nos orifícios. Segundo o relato, todos paravam às 23h para
jantar e voltavam para trabalhar novamente à meia-noite.
Em um dos dias, o funcionário disfarçado e seus colegas foram obrigados
a passar a madrugada marcando pontos de encaixe em placas de iPhone,
usando uma espécie de tinta à base de óleo, tudo muito rápido para que
nada desse errado na esteira onde passava o material. Era comum, nesse
processo, os supervisores gritarem com os operários que colocavam muita
tinta nos pequenos pontos, ou com os que eram lentos demais. Essa tarefa
era normalmente dada a mulheres, por serem mais delicadas e terem mãos e
dedos menores. Como muitas haviam pedido demissão, os operários homens
ficaram com a incumbência.
Linha de produção do iPhone 5 na Foxconn
As horas de trabalho eram extenuante, e os operários ganhavam somente
cerca de 8 reais a cada duas horas extras, mesmo nas madrugadas. O
estresse e a raiva eram tão grandes que, na ausência dos supervisores,
os trabalhadores socavam as partes de iPhone contra as esteiras e
xingavam.
Segundo o diário, somente 2 dos 36 operários que entraram na Foxconn
junto com o jornalista conseguiram obter condições melhores de trabalho,
pois foram designados ao departamento de inspeção de controle de
qualidade. Nesse setor eram permitidos 10 minutos de descanso a cada 2
horas trabalhadas. O jornalista não aguentou a rotina e abandonou a
fábrica no 10º dia.
Fonte: Mic Gadget
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